13 de novembro de 2011

Sugestão de Leitura





São poucos os escritores da África Meridional conhecidos do grande público. Pepetela (cujo nome verdadeiro é Arthur Maurício Pestana dos Santos) é angolano. Angola, país de colonização portuguesa, conseguiu a independência apenas em 1975. Depois da guerra de libertação, mergulhou num período de guerra civil, em que lutavam de um lado os afiliados ao Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e apoiado pela União Soviética, e de outro os seguidores de Jonas Savimbi, líder da União Nacional pela Libertação Total de Angola (Unita), que contava com o apoio dos Estados Unidos. Essa guerra acabou somente em 2005, com a morte de Savimbi, e o país ainda se encontra arrasado, coberto de minas e carente de infra-estrutura.

Em Mayombe, um de seus inúmeros romances, Pepetela conta a história de um grupo guerrilheiro acampado no meio da mata. É gente sem recursos de toda a espécie. Faltam comida, armas, estratégia. A maior parte dos soldados é analfabeta. Muitos não se entendem, pois pertencem a comunidades diferentes que falam línguas diversas. Até hoje, em Angola, há 36 idiomas, além do português.

Há problemas de hierarquia. Algumas etnias se consideram superiores às outras, e não aceitam receber ordens de comandantes considerados inferiores do ponto de vista cultural ou genético.

A aventura dessa gente, o medo, as superstições, a corrupção, o ambiente político, geográfico e psicológico, compõem uma história de aventura emocionante. Pepetela sabe do que fala. Lutou na guerrilha, como suas personagens. Dá ao leitor o privilégio de conhecer um universo muito particular, pouco divulgado. O da África negra, pobre, abandonada. E de conhecer as raízes de problemas que persistem até os dias actuais.


Liliana Marques

3 de novembro de 2011

NÃO SE MATE

Mulher-flor, Picasso

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.



Carlos Drummond de Andrade