29 de setembro de 2008

Barca Bela

Bete Brito, «Pescador solitário»

Pescador da barca bela,

Onde vais pescar com ela.

Que é tão bela,

Oh pescador?

***

Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Oh pescador!

***

Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela...

Mas cautela,

Oh pescador!

***

Não se enrede a rede nela,

Que perdido é leme e vela

Só de vê-la,

Oh pescador!

***

Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela,

Foge dela,

Oh pescador!


Almeida GARRETT

25 de setembro de 2008

Está Atento/a!


Arcimboldo, Outono, 1573

«Saramago diz que próximo romance sai no Outono
Lisboa, 19 Abr (Lusa) - O novo romance de José Saramago, "A Viagem do Elefante", deverá sair no Outono, anunciou o escritor numa entrevista publicada hoje no semanário `O Sol`.
"O livro não está muito adiantado, está a metade. Espero acabá-lo este Verão e que se possa publicar no Outono (...) É um livro muito difícil, mas que me tem dado muita satisfação", disse o Nobel da Literatura de 1998.
Saramago, 85 anos, não adianta, contudo, pormenores acerca do seu novo romance: "Pôr um elefante a viajar não é uma invenção minha. É um facto histórico (...) Agora, se perguntarem que elefante é esse, lamento muito, mas não...".
O escritor, hospitalizado no final do ano passado em Espanha com uma pneumonia, estará quarta-feira em Lisboa para inaugurar a exposição "José Saramago: A Consistência dos Sonhos", no Palácio da Ajuda.
Falando sobre o seu processo criativo, José Saramago diz que é "um escritor atípico".
"Só escrevo porque tenho ideias. Sentar-me a pensar que tenho que inventar uma história para escrever um livro nunca me aconteceu e nunca me acontecerá", acrescentou.
Quanto ao acordo ortográfico, que o Parlamento português deverá em breve ser chamado a ratificar, Saramago afirma que não mudará a sua maneira de escrever e duvida que ele seja necessário: "Continuarei a escrever como escrevo. Os editores e os revisores que façam o seu trabalho e que corrijam as palavras segundo a nova moda".
Questionado acerca das suas relações com o PCP, Saramago respondeu: "Não há afastamento nenhum (...) Continuo a ser exactamente a mesma pessoa, com o mesmo tipo de relação com um partido que aceitei livremente".
O escritor garante que "segue" a linha do partido, "mas de uma forma crítica" e que lhe parece "mais útil".
Num registo mais íntimo, o escritor define-se como "um sentimental" e "uma pessoa de afectos", rejeitando a "arrogância" que lhe é por vezes atribuída: "De arrogante não tenho nada".
José Saramago admite ser "austero", mas considera que "uma austeridade de carácter não é defeito, pelo contrário".»



AC.
Lusa

22 de setembro de 2008

Morreu Luciana Stegagno Picchio


Ed. Caminho



Luciana Stegagno Picchio filóloga iberista, historiadora da cultura e crítica literária italiana foi professora emérita da Universidade de Roma «La Sapienza» depois de ter nela leccionado, como professora catedrática, de 1969 até 1996 Língua e Literatura Portuguesa e Literatura Brasileira.

Foi também professora visitante em muitos países entre os quais principalmente Portugal, Brasil e Estados Unidos.

Licenciada em Arqueologia grega pela Universidade de Roma, participou de várias empresas científicas e editoriais italianas e estrangeiras como o Dizionario delle Opere e dei Personaggi Bompiani e a Enciclopedia dello Spettacolo. Colaboradora em Boston do linguista Roman Jakobson em estudos de Literatura Medieval e Moderna Portuguesa (Fernando Pessoa), é autora de mais de quinhentas publicações dedicadas especialmente às literaturas e culturas de língua portuguesa. Entre as dedicadas a Portugal destacamos a Storia del teatro portoghese (Roma, 1964, trad. portuguesa, Lisboa, 1969), Profilo della letteratura drammatica portoghese (Milano, 1967), Ricerche sul teatro portoghese (Roma, 1969), edições críticas de poesia e prosa medieval, renascentista e moderna (lírica galego-portuguesa, João de Barros, Gil Vicente), ensaios críticos sobre os principais autores de língua portuguesa desde Camões e Fernando Pessoa a José Saramago. Muitos destes ensaios foram recolhidos, em versão portuguesa no volume A Lição do texto (Lisboa, 1979) e, em francês, nos dois volumes de La Méthode Philologique com prefácio de R. Jakobson (Paris, 1982).

Entre as dedicadas ao Brasil destacamos várias histórias literárias desde La littérature brésilienne (Paris, «Que sais-je?», 1982 e 1996 com trad. portuguesa e francesa) e La letteratura brasiliana (Firenze-Milano, 1972, com trad. romena, Bucaresti, 1986), até Storia della letteratura brasiliana (Torino, 1997, com ed. brasileira, História da Literatura brasileira, Rio, 1997). Amiga e Editora do poeta brasileiro Murilo Mendes, Poesia completa e prosa (Rio, Nova Aguilar, 1994), foi colaboradora do jornal La Repubblica onde publicou regularmente, desde 1987, artigos e resenhas sobre assuntos nomeadamente portugueses e brasileiros. Membro de numerosas academias, Doutor h. c. de várias Universidades, viveu e trabalhou em Roma. Morreu a 28 de Agosto aos 88 anos.

19 de setembro de 2008

Coração sem imagens - Raul de Carvalho

(Imagem retirada da net, via Google)

Deito fora as imagens.
Sem ti, para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me
ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.