16 de março de 2009

Os amantes sem dinheiro, Eugénio de ANDRADE



Os amantes sem dinheiro
Tinham o rosto aberto a quem passava.

Tinham lendas e mitos

e frio no coração.

Tinham jardins onde a lua passeava

de mãos dadas com a água

e um anjo de pedra por irmão.

*
Tinham como toda a gente

o milagre de cada dia

escorrendo pelos telhados;

e olhos de oiro

onde ardiamos

sonhos mais tresmalhados.

*
Tinham fome e sede como os bichos,

e silêncio

à roda dos seus passos.

Mas a cada gesto que faziam

um pássaro nascia dos seus dedos

e deslumbrado penetrava nos espaços.



1 comentário:

Juℓi Ribeiro disse...

Maravilhoso poema!
Belíssimo é o objetivo
deste blog...
Fiquei encantada!
Um forte abraço.