11 de janeiro de 2010

“A vida não é uma pergunta a ser respondida. É um mistério para ser vivido”

(Na) corda bamba






Não me sinto preparada para enfrentar o dia. Este ano, o Natal está simplesmente a ter um sabor diferente. Eu sinto algo diferente também. Sinto que está muita coisa fora do lugar, que falta muita coisa, que não sou feliz assim. Nesta época do ano, as ruas estão praticamente vazias e enquanto aqui há um tempo adorava andar sozinha a passear, a ouvir os pássaros e a sentir a chuva, hoje não me apetece nem mostro interesse algum em fazê-lo.
Na estante do meu quarto, para além do pó que se vai acumulando desde a semana passada e da imensidão de livros, tenho uma série de fotografias. Analisei-as uma a uma, com o maior afecto que podia ter para com elas, e encontrei uma que me despertou de imediato a atenção. Era uma das poucas fotografias em que ele aparecia. Ele não se importava com fotografias e eu tinha sempre a ideia que ele considerava que as memórias não se guardavam em fotografias mas sim no coração. Ele nunca mo disse,  mas sinto que era a maneira dele fitar este aspecto da vida.
Antes de partir rumo ao infinito ele deixou-me uma grande lição de vida. E se há pessoa por quem eu dava a minha vida era por ele. Vejo-o como um herói, como um cavaleiro andante que morava naquele caderno estimado, de capa aveludada, com o seu cavalo aéreo, com a sua lança afunilada, com a sua espada e com a sua armadura.
Tornou-se hábito acordar de manhã para ir para a escola e vê-lo, fresco, a tratar da sua horta. Tornou-se hábito dar aquele grande beijo, sempre que ambos nos cruzávamos. Tornou-se hábito amá-lo. Tornou-se hábito não o querer perder.
Agora, passados estes anos, não consigo que se torne hábito viver com a ideia que o perdi. Quero continuar com a ideia que lhe vou dizer tudo o que não lhe disse ao vê-lo e que nunca mais o vou deixar partir. Quero apenas que ele saiba o quão eu o amei e amo, e as saudades que sinto desde que o perdi.
Avô Luís, olha por nós, porque nós continuamos a olhar por ti.


Catarina Salomé, 10.º D