28 de fevereiro de 2010

DISTÂNCIA


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Era o ano de 2003, época de Natal. Eu tinha 10 anos e penso que nesse ano estava ansiosa, como nunca, para as férias de Natal começarem pois sabia que as iria passar (finalmente) com o meu pai. Dias, semanas, meses, anos sem o ver, mil e mil km a separar-nos e nem uma ou duas semanas chegavam para matar todas as saudades que existiam entre nós.
Quando finalmente o vi, é impossível descrever a minha felicidade, mas também, como se vê a felicidade de uma criança? Por um sorriso na cara, um forte brilho nos olhos, por vezes cheios de lágrimas de alegria…
As ruas estavam tão lindas, estavam brancas de neve, parecia algum mundo mágico e a neve não parava de cair. A caminho de casa ele contava-me histórias, eu era muito feliz e depois pensei que só a distância não me deixava estar sempre com ele, sentir o amor dele, rir com ele. Faltava-me a preocupação dele, sentir que, quando estivesse a dormir, ele entrava no meu quarto, sentava-se no cantinho da cama e dizia o quanto gosta de mim, o quanto sou importante na vida dele e que sou a melhor coisa que alguma vez ele poderia ter.
Não me lembro de todo o tempo que passava com ele, mas, aquelas férias de Natal, jamais as esquecerei. Contar toda a história de começo ao fim? Não vale a pena, ninguém o irá entender, nem conseguirá compreender a minha felicidade ou tristeza, apenas eu que consigo sentir e sei o que senti naqueles dias. As férias, sim, foram únicas, o meu pai nunca me deixou, naqueles dias, esteve sempre presente, mesmo no dia da despedida. Uma criança de 10 anos, ainda não sabe o que é dor, o que é sofrer, mas naquele dia, eu já me sentia mal, com algum vazio dentro de mim e já com certa saudade. Eu estava na sala, a pensar que não o quero deixar ir, que quero que ele fique comigo para todo o sempre, mas, se tudo fosse tão fácil…
Quando chegou o momento de ir para o aeroporto, no último instante eu disse que não queria ir. Não porque não me apetecesse, mas sabia que iria chorar e não queria que ele, na sua partida, visse as minhas lágrimas, a minha tristeza, não queria que ele na sua despedida, o meu retrato na memória dele fosse esse. Queria que ele, pela última vez me visse a sorrir, com um brilho nos olhos, da mesma maneira quando chegou. Estava na hora, ele entrou na sala, pegou-me ao colo e disse: “Pronto amor, eu vou-me embora, mas sabes, eu prometo-te, um dia, irás passear comigo em Portugal e vamos estar sempre juntos, sempre, está bem? Eu prometo e vou cumprir isso. A distância nunca vai conseguir separar-nos. Amo-te muito, lembra-te disso.” Deu-me um beijo e saiu para fora. Eu não aguentei, não consegui sorrir, mexer, não consegui fazer nada. Os meus olhos brilhavam, mas não era de felicidade, eram as lágrimas que estavam prontas a cair como se fosse uma chuva. Vi-o pela janela a ir embora, ele simplesmente desaparecia da minha frente e a neve… a neve continuava a cair apagando as suas pegadas.

24 de Fevereiro de 2010
Oksana Zvarych , nº19 , 10ºD

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