16 de outubro de 2010

Almeida GARRETT - poesia lírica


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Perfume da Rosa
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?
 5 Qual é o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?
- Ninguém? - Mentiste: essa frente
10 Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.
E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
15 e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?
Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
20 Tos desarmam, ó rosa?
E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pôr do sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?
25 Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?
Não a vi aflita, ansiada...
30 - Era de prazer ou dor? -
Mentiste, rosa, és amada,
E também tu amas, flor.
Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,
35 Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.

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